O pirata era nojento. Sentado esparramado na cadeira, deixava a barriga gorda e peluda para fora da camisa de propósito. Bebia e babava pelos cantos da boca. A barba era espessa com muitos fios brancos, e sempre meio molhada de baba ou de rum. Ao tossir, e ele sempre tossia, quase vomitava.
Pensamos que estava dormindo com o queixo preso no peito, mas quando aquele homem entrou na taberna ele abriu o olho, único que tinha. O homem caminhou altivo, elegante e colocou-se frente ao pirata. De seu terno impecável o homem perguntou: “Onde?”. O pirata não se moveu por um instante, depois, lentamente, sua mão suja e de unhas compridas tirou do bolso uma corrente grossa de ouro com uma medalha reluzente. Um sorriso encardido abriu-se no rosto do pirata, mas ele não emitiu nenhum som. O homem, ainda de pé, sério, tirou do bolso do paletó um envelope e colocou sobre a mesa. Com a outra mão, o pirata abriu desajeitado o envelope e olhou seu interior. Sorriu mais uma vez com um leve pigarro, impediu uma tosse, e jogou a corrente de ouro para o homem que a guardou no bolso e saiu ligeiro.
Nunca mais se ouviu falar do homem de terno alinhado. Quanto ao pirata, ele continua por aqui, vendendo mapas do tesouro incrustados em medalhas brilhantes para homens ricos e de boa fé. Estranho que nunca ninguém tenha voltado.
Muito legal teu blog, teus escritos… esse dá pra fazer uma peça!!! Muito bom…